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Foto do escritorNúcleo de Serviço Social - ISCSP

Dia Internacional da Mulher- "A emancipação da mulher" por Susana Silva

Celebra-se hoje, dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Para assinalar este dia, a Susana Silva escreveu um artigo que poderás ler abaixo:


"Hoje, dia 8 de março, celebra-se o Dia Internacional da Mulher, oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1975. Apesar das divergências existentes quanto à origem histórica, este dia assumiu-se como uma luta pela igualdade de direitos políticos e civis para as mulheres, num contexto onde estas pediam melhores condições de trabalho e de vida e o direito ao voto. Contudo, ao longo do tempo, esta data, apesar de continuar a ser celebrada, tem uma simbologia diferente uma vez que os movimentos feministas lutam agora contra outras formas de opressão existentes nomeadamente a questão da diferença salarial e da violência física e sexual, que tem vindo a atingir números preocupantes em Portugal. Assim, em pleno séc. XXI, num país do Ocidente, e no resto do mundo inteiro, ainda se luta para atingir a igualdade há tanto tempo desejada.

Desde sempre que o símbolo de poder, soberania e autoridade é o homem, quer seja no âmbito político, financeiro ou social. O feminismo surgiu neste contexto com o intuito de questionar esta ideologia patriarcal. Dessa maneira, importou desafiar as pessoas a pensar nas práticas opressivas, mais precisamente contra as mulheres, levando-as a lutar pelos seus direitos. Toda a ideologia de género que envolve a mulher, submetendo-a, unicamente, ao papel de cuidadora e subjugando-a às vontades do marido levou à crescente vontade das mesmas de procurar uma identidade própria, de tomar as rédeas das suas vidas e dos seus corpos. Tal como referi anteriormente, o direito ao voto foi uma marca nesta luta de obtenção de direitos, sendo um dos primeiros objetivos do movimento feminista, a fim de alcançar o reconhecimento das mulheres como cidadãs. Uma conversa sobre obtenção do direito ao voto não estará completa sem referir Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher em Portugal a exercer o seu direito ao voto, depois de ter invocado o estatuto de “chefe de família”, uma vez que, para além de ser viúva, era ela quem sustentava a sua filha. Este tornou-se um marco do feminismo em Portugal.

Outra das vias que levou à emancipação da mulher foi a educação. Segundo Paulo Freire, é pela educação que se pode gerar o processo de emancipação. Esta afirmação não poderia fazer mais sentido, uma vez que é através desta que temos o poder de desconstruir o estatuto estereotipado da mulher na sociedade e os papéis pela mesma estipulados. Desta forma devemos investir na educação das gerações futuras para que possam ter opinião e consciência, produzindo a mudança.

A chave para a igualdade de género está também no empoderamento, que é uma arma poderosa que ajuda a combater a opressão que atinge o sexo feminino todos os dias. O empoderamento pode ser explicado como um processo de conquista de autonomia e de autodeterminação.

Na sociedade patriarcal, a liberdade sexual da mulher sempre foi um tema tabu, sendo mais um dos domínios em que a mulher era oprimida. Idealmente, as mulheres deveriam manter-se recatadas, não expressando os seus desejos e a sua liberdade sexual. Estes, perante a sociedade, nem deveriam existir. Foi através do surgimento e comercialização da pílula como método anticoncecional, na década de 60, que foi dada às mulheres a autonomia de governar o seu próprio corpo e de decidir o número de filhos que queriam ter, concedendo-lhes uma liberdade há muito desejada.

Ao longo dos anos, o movimento feminista tem vindo a conquistar a igualdade de direitos e a reivindicá-los, sendo estes sociais, políticos e civis. Assim, o papel da mulher sofreu uma transformação não apenas no espaço público, como no espaço privado, havendo uma alteração do seu papel no seio familiar. Deixa de existir a ideia tradicionalista de família, onde conhecemos a mulher como cuidadora e o seu esposo como provedor, para passar a existir uma flexibilidade na atribuição destes papéis independentemente do género. Isto deve-se também à entrada da mulher no mercado de trabalho, tende este tido um grande impacto na forma como se veem as famílias atualmente. Posteriormente a este acontecimento, ocorreram vários fenómenos como a maior taxa de divórcios, maior taxa de desemprego masculino e atribuição da provisão a ambos os cônjuges. Atualmente, a emancipação das mulheres através da continuação dos estudos e do emprego, traduz-se também em mudanças na natalidade, uma vez que as mulheres passaram a delimitar objetivos profissionais e a assumir a sua carreira como prioridade. O plano de formar uma família é deixado em segundo plano, acabando por existir uma união matrimonial mais tardia, que, consequentemente, adia a ideia de ter filhos. Também os tipos de família acabam por sofrer transformações face a estes fenómenos sociais, acabando a família nuclear tradicional por ser substituída por famílias reconstituídas, famílias monoparentais e até famílias homossexuais.

Apesar de todos estes avanços que fui mencionando ao longo desde texto, os quais considero os mais relevantes neste percurso que se tem vindo a desenvolver, ainda existe um grande caminho a percorrer até atingir a igualdade de direitos entre mulheres e homens. No caso português, apesar da igualdade estipulada na Constituição Portuguesa, esta não se reflete nas práticas do dia-a-dia. Assim, como disse anteriormente, é através da educação que temos poder para atingir a mudança e espero que este texto, para além de se revelar uma celebração de todos os feitos realizados pelas mulheres perante as amarras da opressão, seja também uma fonte de educação e uma chamada de atenção à necessidade do feminismo. Hoje, dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher. Neste dia da Mulher não nos dês flores, dá-nos respeito e celebra connosco o que já conseguimos alcançar. Mais importante, faz parte da mudança e ajuda-nos a alcançar mais." - Susana Silva, 3º ano da Licenciatura em Serviço Social


Referências bibliográficas:


Ayres, C. (2015). “Mulheres, realidade social e desafios emancipatórios” in Revista Estudos Feministas, 23(2), 619-621. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2015000200619&script=sci_arttext&tlng=pt


Côrrea, L. (2019). Emancipação feminina na sociedade contemporânea: reflexões sobre o papel formativo da mulher na família. (Dissertação de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Psicologia). Goiânia: Universidade Federal de Góis – Faculdade de Educação. Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/9454


ONU (março, 2020). Dia Internacional da Mulher: Porque é que ainda se celebra este dia?. Disponível em: https://unric.org/pt/dia-internacional-da-mulher-porque-e-que-ainda-se-celebra-este-dia/


Sardenberg, C. (2012). Conceituando “Empoderamento” na Perspectiva Feminista. Salvador: NEIM/UFBA. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/6848/1/Conceituando%20Empoderamento%20na%20Perspectiva%20Feminista.pdf




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